terça-feira, 6 de maio de 2008

Invernando

Eu adoro o inverno.
Nele eu posso praticar toda a minha preguiça, embora não em sua totalidade, ou da forma que eu mais desejo.

Nessa estação eu fico mais melancólica, mais quietinha, mais amável.
Eu gosto do meu cobertor e atualizo a minha lista de filmes para ver.

Tenho até feito gente se acalmar com esse meu pensamento.
Convenço de que ficar em casa, no quentinho do sofá, é o melhor a ser feito.
Descobri que tenho grande poder de persuasão.

***

Essa minha preguiça me ajudou a desenvolver técnicas para conviver com ela.
Teve uma época em que eu sabia onde a porta do trem ia parar. Se eu estivesse bem na porta, havia mais chances de eu conseguir sentar.
Ao mesmo tempo, sempre tive horror de quem dormia no trem.

Um dia desses, entrei no vagão e tinha um grupo de mulheres. Era domingo, trem vazio, tinha lugar para todo mundo. Elas bebiam guaraná e falavam alto. Eis que uma tira o celular da bolsa e começa a tocar as suas músicas preferidas, ou funks frenéticos, como preferirem.
Ela dançava aquilo que a Mulher Melancia ensinou na televisão. Mas sentada.
O senhor que estava sentado ao seu lado estava visivelmente sem jeito. Um outro já ria.
Na minha frente, no assento especial, havia um rapaz com sérios sinais de esquizofrenia. Ele falava sozinho, olhava para o nada. Ou estava só pensando alto, não sei.
Sei que, do nada, ele também começou a dançar sentado.
E lá estávamos eu, a dançarina do trem e o esquizofrênico dividindo a mesma preguiça de ficar em pé no vagão.
E ouvindo o mesmo funk.

A realidade é bem mais engraçada do que se imagina.

Um comentário:

Luana Duarte Fuentefria disse...

Eu gostaria muito do inverno se pudesse hibernar por três meses inteiros. Isso seria um inverno bom pra mim... :)