quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sob as luzes da fama

Não quis escrever sobre o seqüestro da menina de São Paulo. Agora que já passou um tempo, posso afirmar que ninguém mais fala tanto sobre isso.
Acabou. Já foi.
Não é mais novidade.

Não que seqüestros no Brasil possam figurar na categoria "novidades". Todos os dias, inúmeros casos semelhantes acontecem em muitos pontos do país, bem como por inúmeros motivos.
Também, não vamos dizer que essa foi a primeira rejeição amorosa que virou tragédia por aqui. Não sejamos bobos.

O que atraiu tanto, então?
O show.

Mas não quero falar sobre isso, também. Muitos já questionaram o papel da imprensa nesse caso específico e eu seria apenas mais uma voz no coro.

O que me intriga é o que há de errado em viver uma vida simples. Por que, afinal, as pessoas precisam de grandes tragédias ou grandes conquistas para se sentirem plenas?
As conquistas eu até entendo. Uma vida de objetivos prevê uma vitória no final.
Acontece que, na falta de perspectiva gloriosa, acredita-se que uma grande tristeza tem o seu valor.


Vivemos em uma sociedade que julga, mesmo sem poder para tal, não pelo que alguém é ou faz, mas pelo que parece ser ou fazer.
Não precisa cantar, tem estúdio que conserta a voz.
Não precisa saber escrever, tem gente que te ajuda na correção.
Não precisa ser bom para conseguir o tal emprego, basta na entrevista convencer de que é.

Se você parece, meio caminho andado para acreditarem que você é.

O espetáculo abre as portas para aquele que sofre, aquela que apanha do marido, aquele que é traído. Para a mãe que perdeu a filha, para a família que perdeu a casa na enchente.
Quinze minutos de fama.

Abanem e sorriam para as câmeras, por favor.

De quem é a culpa? Falta ética na mídia? Condenemos os jornalistas, oh, raça que se vale da tristeza alheia (raça a que quase pertenço, inclusive)?

Não.

O que vemos é reflexo dos interesses de um público que não planeja o futuro. Que não se imagina no topo por esforço.
Esse público compõe a parcela que mais consome esse tipo de entretenimento.
Um público que quer “sensacionalizar” uma vida comum, a ponto de achar que isso tudo valoriza a existência.

O que esperar de uma sociedade que faz da morte um acontecimento digno de milhares de visitantes? Onde estão esses visitantes quando o assunto é, realmente, de interesse público?

A vida anda tão complicada que a fama vem do lado inverso. São artistas pelo avesso. Atores de uma vida que, de tão normal, precisa de uma luz para ter graça.

O público não quer mais aplaudir e só.
Quer, a qualquer custo, fazer da vida um espetáculo.

Uma pena.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Um tempo em silêncio

Minha família tem casa há 25 anos na praia de Bom Jesus, "um lugarzinho no meio do nada, com sabor de chocolate e cheiro de terra molhada".
O balneário fica entre Curumim e Arroio do Sal, dois municípios litorâneos que nem têm cara disso.
Os primeiros passos da Tatzie, minha irmã, foram lá, até onde lembro de terem me contado. Ela tinha 15 dias quando foi a primeira vez.
Eu vou desde sempre, também. Lógico.
Tenho fotos onde apareço engatinhando na areia, segurando a mão do meu avô enquanto espero a onda chegar, todas essas coisas.

Passei o fim de semana em Bom Jesus com a família. Choveu no sábado, o domingo estava meio frio, tudo descaracterizava o sentido de ir para a praia.
No entanto, não dava vontade de ir embora.

O silêncio de lá conforta.

De certa forma, meus ouvidos descansaram. O telefone tocava pouco, não haviam buzinas ou barulhos de acidentes.
Não houve discussão. Não houve discordância.
Só o silêncio, a calmaria, a brisa que vinha e batia no rosto.
O cheiro do mar...

Ultimamente, os dias andam tão cheios e tão corridos que não há tempo de se ficar em silêncio.
Aliás, as pessoas perdem inúmeras oportunidades de ficarem quietas. Talvez por acharem que devem falar automaticamente, talvez por incapacidade de não falar. Preferem passar mensagens medíocres, falar besteira, incomodar de alguma forma.

Bom Jesus me dá o silêncio de presente, onde minha mãe ouve o canto do bem-te-vi e eu ouço meus próprios pensamentos.

Quando passamos uma mensagem, existem várias partes envolvidas. Simplificando o caminho, teremos nós que a emitimos e aqueles que a receberão.
Portanto, quando falamos, escrevemos ou queremos nos expressar de alguma maneira, devemos imaginar as possíveis reações daqueles que receberão a informação.
Tudo é passível de interpretação.

Bom Jesus me permite uma autocomunicação. Não que eu fale sozinha e converse comigo mesma, mas eu sei que mensagem quero mandar para mim. Mais importante: sei como quero que EU entenda o que EU acabei de dizer.

O silêncio vale mais que mil palavras, nos diriam os clichês.
Sou obrigada a concordar.
O silêncio tem me preenchido.


Por mim, não teria voltado de Bom Jesus. Teria me refugiado em sua quietude.
Quero férias do barulho, das palavras e das falas desmedidas.


Infelizmente, não tem como. Isso tudo é o que temos para o momento.
Então, vou cuidar das palavras que uso, das opiniões que tenho, dos ouvidos que ouvem.


No fundo sei que sempre terei dois dias em Bom Jesus.