segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Um tempo em silêncio

Minha família tem casa há 25 anos na praia de Bom Jesus, "um lugarzinho no meio do nada, com sabor de chocolate e cheiro de terra molhada".
O balneário fica entre Curumim e Arroio do Sal, dois municípios litorâneos que nem têm cara disso.
Os primeiros passos da Tatzie, minha irmã, foram lá, até onde lembro de terem me contado. Ela tinha 15 dias quando foi a primeira vez.
Eu vou desde sempre, também. Lógico.
Tenho fotos onde apareço engatinhando na areia, segurando a mão do meu avô enquanto espero a onda chegar, todas essas coisas.

Passei o fim de semana em Bom Jesus com a família. Choveu no sábado, o domingo estava meio frio, tudo descaracterizava o sentido de ir para a praia.
No entanto, não dava vontade de ir embora.

O silêncio de lá conforta.

De certa forma, meus ouvidos descansaram. O telefone tocava pouco, não haviam buzinas ou barulhos de acidentes.
Não houve discussão. Não houve discordância.
Só o silêncio, a calmaria, a brisa que vinha e batia no rosto.
O cheiro do mar...

Ultimamente, os dias andam tão cheios e tão corridos que não há tempo de se ficar em silêncio.
Aliás, as pessoas perdem inúmeras oportunidades de ficarem quietas. Talvez por acharem que devem falar automaticamente, talvez por incapacidade de não falar. Preferem passar mensagens medíocres, falar besteira, incomodar de alguma forma.

Bom Jesus me dá o silêncio de presente, onde minha mãe ouve o canto do bem-te-vi e eu ouço meus próprios pensamentos.

Quando passamos uma mensagem, existem várias partes envolvidas. Simplificando o caminho, teremos nós que a emitimos e aqueles que a receberão.
Portanto, quando falamos, escrevemos ou queremos nos expressar de alguma maneira, devemos imaginar as possíveis reações daqueles que receberão a informação.
Tudo é passível de interpretação.

Bom Jesus me permite uma autocomunicação. Não que eu fale sozinha e converse comigo mesma, mas eu sei que mensagem quero mandar para mim. Mais importante: sei como quero que EU entenda o que EU acabei de dizer.

O silêncio vale mais que mil palavras, nos diriam os clichês.
Sou obrigada a concordar.
O silêncio tem me preenchido.


Por mim, não teria voltado de Bom Jesus. Teria me refugiado em sua quietude.
Quero férias do barulho, das palavras e das falas desmedidas.


Infelizmente, não tem como. Isso tudo é o que temos para o momento.
Então, vou cuidar das palavras que uso, das opiniões que tenho, dos ouvidos que ouvem.


No fundo sei que sempre terei dois dias em Bom Jesus.

2 comentários:

Luana Duarte Fuentefria disse...

eu também prefiro o silêncio. principalmente o meu. a gente aprende muito mais ouvindo os outros e a gente mesmo do que querendo que nos escutem.

mesmo assim, saudade de falar contigo, aloha! :)

Unknown disse...

bah, Bom Jesus...

a melhor definição que eu já li... "um lugarzinho no meio do nada (eu disse nada), com sabor de chocolate e cheiro de terra molhada".
é
e o silêncio que me conforta!!!