terça-feira, 20 de maio de 2008

A parede do banco

Eram colegas e passavam por um momento difícil, ou nem tanto.
A situação era favorável, portanto.

Ela tinha acabado de ver seu relacionamento chegar ao fim. Tudo bem que não era nada tão sólido, mas não era bom chegar a um fim definitivo.
Ele estava em dúvida sobre o que queria nessa questão. Era uma história difícil, a dele. Parecia que não ia dar certo.

Ela resolveu mudar um pouco. Passou a pintar as unhas de vermelho e a ir em outro tipo de festa. Passou, também, a conversar mais com aquele colega, que parecia ser tão seu amigo.
Ele seguia sendo o colega que parecia ser tão amigo dela, e pensava a mesma coisa.

Chegou o dia de uma festa muito esperada. Uma hora antes de sair, ela decidiu não ir. Contaram para ele, que ligou e disse "vai!".

Bem, ela foi.
Foi e gostou muito.
Foi e se aproximou mais ainda de seu colega.

Falavam-se mais fora da aula, agora.
Eram mais amigos, criando aquela desculpa confortável de que, sendo tão amigos, não seriam nada além.

Na volta de um feriado de novembro, passados alguns dias, ela precisaria ir no trabalho dele. E avisou.
Marcaram, então, de almoçar no centro da cidade.
O nervosismo tomava conta dela, como se fosse lógico o que ia acontecer, mas não devia ser lógico.
Ele estava sem ação, reação, sabe-se lá o quê.

Na saída do almoço, no entando, ele disse estar passando mal.
"Só falta ele desmaiar no meio desse chão sujo", foi o pensamento dela, que sugeriu, então, que parassem um pouco na sombra. Era um dia quente.

Ele se escorou em uma parede de banco, de onde saia um sopro gelado de ar-condicionado.
Então, pediu um abraço. E ganhou.
Pediu outro e se aproveitou da proximidade do rosto dela. Beijou a menina afinal.

Depois daquele dia, depois da parede do banco, se viram de novo.
E quando se viram de novo, quiseram se ver mais uma vez.
E outra, e outra, e quanto mais se viam, mais vezes queria se ver.

Assim, um dia, estavam jantando.
O nervosismo que tomou aquela mesa os fez lembrar daquele primeiro almoço.
Não sabiam para onde ir, nem que decisões queriam tomar.

Falaram coisas sem sentido, mas que deviam ser lidas nas entrelinhas. Sentiam medo, vontade, ciúme.

Na hora de ir embora, no entanto, ele disse que tinha medo de pedir algo e ela responder que não. E ela disse que não podia falar em hipóteses, pois se respondesse que sim tinha medo que a pergunta não fosse séria.

Malditos paradoxos que os rodeavam.

Atravessaram a rua e ele pediu um abraço. Ela já sabia que coisas poderiam vir daqueles abraços.
"E se não fosse em hipótese?"
Essa pergunta marcou aquela noite, e deu rumo para os próximos meses.
Se não era hipótese, sim, a resposta era sim.

E esse é o fim da história de um começo, ou do começo de uma história.

Desde aquele dia, se vêem mais, se falam mais, e contam mais tudo isso por aí.
A diferença? Falam com brilho e certeza no olhar...

***

- Você nunca escreveu sobre isso, né?
- Não, ainda não.



Até hoje.

3 comentários:

Luana Duarte Fuentefria disse...

nossa! isso tá bem intimista.

se eu fosse escrever sobre minhas histórias amorosas sairia uma bela comédia. é melhor nem arriscar... hehe

Anônimo disse...

hoje vc escreveu e como sempre, muito bem.
não incluiu a parte que vc me beijou, mas tudo bem... vc nao gosta dessa história com essa parte emocionante! HAHAHAHA

e o brilho é visto de longe. que coisa, não?

te amo, alohinha!

Anônimo disse...

Ai, ai, ai, ai...

Então foi assim é?

Bjs pros dois...