quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Exaustão

Não é incrível como as pessoas têm a mania de explorar uma mesma coisa até que ela se esgote?

É escândalo político, estilo musical, moda, filme, a traição de alguém próximo, a nova namorada do ex. Não importa! As pessoas falam, invariavelmente, de um mesmo assunto por dias!

Não sei pra vocês, mas, pra mim, as coisas vão perdendo o sentido quando ficam muito comuns.
Perdem seus motivos especiais, seus atrativos.

E estou eu, no centro de Porto Alegre, à tarde, ouvindo rádio nos fones de ouvido. Era um dia extremamente quente. O centro fica um inferno em dias muito quentes.
Precisava fazer compras, o que me impedia de fugir daquela caldeira.
Na rádio começa a tocar a trilha do filme "Tropa de Elite", música essa que leva o mesmo nome, e que foi lançada há uns cinco anos, se não muito me engano.
Troco de estação. Já tinha ouvido a mesma música em umas três estações diferentes pela manhã.
Em outra estação, toca a outra música da trilha. Um funk que também foi lançado há uns três ou quatro anos. E que eu também já tinha ouvido umas outras tantas vezes pela manhã.
Ao redor, as pessoas inserem em suas conversas vários "Pede pra sair!", "Você é um fanfarrão!", "Traz o saco!", frases do Capitão Nascimento, personagem que só me fez gostar mais ainda do Wagner Moura.

Me revoltei.
Assim, a ocasião e o meio favoreciam. Lembrem que estava muito quente e eu não podia ir embora ainda.
Comecei a pensar que eu gostava dessas músicas quando elas foram lançadas. E que elas pararam de tocar, numa espécie de lei natural. Mas agora elas ressurgem e parece uma lavagem cerebral o que estão fazendo comigo!
Eu gostei muito do filme, também. Vi no cinema, inclusive. Adorei as expressões. Mas agora, aonde quer que eu vá, para onde quer que eu olhe, tem alguém falando igual.
Perdeu-se a personalidade, o direito de escolha, a crítica.
Todos agora são aspirantes do BOPE. Alguns já nasceram Capitão Nascimento. Não tem problema conhecer uma pessoa e esquecer o seu nome, chama ela de 02, ou 05, ou oseilaoque. Chama de "aspira"!

Eu acho o Wagner Moura um grande ator. Mas vejam bem, eu já achava antes! Há muito tempo! Antes de novela das oito, antes de ser "o cara do filme do ano".
E agora todo mundo gosta. Agora todo mundo canta funk e Tihuana. Agora todo mundo acha bonito.

Mas perdeu a graça pra mim, um pouco.
Já estou na fase de tudo precisar de um contexto especial para fazer sentido.
As brincadeiras devem ser poucas e espaçadas. As músicas só são boas se mixadas e uma vez por dia.

Estou me desintoxicando.

E pensando nisso, andando no centro, vejo que os problemas sociais não são tão comentados. É como se varrêssemos pro tapete. Se fossem tão discutidos quanto o que nos diverte, talvez a sua saturação trouxesse a solução.
Os próprios problemas do filme não são tratados com a seriedade que deviam. De verdade, aquilo acontece todos os dias. E não é pouca coisa!Não devia ser engraçadinho.

Mas é. É porque não parece valer a pena se preocupar com isso.
A exaustão do assunto nos deixa exaustos demais para tamanho estresse.

No meio de todo esse discurso politizado, que surgiu na minha cabeça naquele dia escaldante, aparece um palhaço em cima de suas pernas-de-pau, com um frango de borracha na mão.
E não gosto de palhaços. Acho estranho, tenho receio. E fui atacada por vários desses, em vários centros. Até no shopping já me atacaram, com um similar frango de borracha.

Enfim, o palhaço, naquela altura toda, pára na minha frente e bate na cabeça do frango dizendo: pede pra sair!Pede pra sair!

E eu ri.
Não tinha outra saída a não ser essa.
Não tem mais saída.

Esse mundo tá perdido, mesmo.
Que medo.


Conclusão: eu ainda gosto do filme, e veria de novo no cinema. Eu sei a letra de uma das músicas, a outra é muito difícil pra mim. Eu ainda acho o Wagner Moura muito bom ator. E eu não gosto mesmo de palhaços.

Já andei contando essa história por aí.
Publico para a posteridade, então.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O Senhor das Flores Mágicas

Sempre tento encontrar, nos meus caminhos de trem, pessoas peculiares. Não digo estranhas. Ninguém precisa ser estranho para ser diferente. Mas elas trazem alguma coisa que chama a atenção, não sei por quê.

Pois esses dias, ao entrar no vagão, achei de cara o meu personagem. Era um senhorzinho que vende essas flores mágicas, feitas de papel colorido e presas em dois palitos de picolé. Quando abertos os palitos, elas começam a tomar forma. A princípio, parece um arco-íris. Depois viram bolinhas, até chegar ao formato de uma cabeça com chapéu.
Muito simples elas são. Um brinquedinho sem grandes atrativos. Certamente, em um ou dois dias a criança cansa dos mesmos formatos que a fita adquire. Não tem muita graça.

Enfim, esse senhorzinho estava sentado ao lado de um menino e mostrava para ele as várias formas para as fitas. Juntava mais de uma. Fazia com três! Criava movimento, situações, até um carrinho ele fez. O menino até estava atento, mas em alguns momentos ele olhava pra mãe como se dissesse: eu não quero isso. Quero meu Playstation 3 novinho, quero jogar no computador também. Isso é muito chato para a minha geração.

Mas o senhor seguia fazendo suas brincadeirinhas. E eu achando muito bonito toda aquela brincadeira manual, que me lembrava alguns dos meus passatempos favoritos da infância. Eu não tinha tudo isso que as crianças têm hoje em dia. Nem os brinquedos tecnológicos, nem a esperteza informatizada, nem os quilos a mais do sedentarismo. Eu corria na rua, pegava aquelas molas coloridas e passava de um lado ao outro. Eu fazia esporte. Eu tinha bonecas, brinquedos que me faziam pensar e que ativavam minha coordenação. E eu era muito feliz, sim.

Enquanto eu pensava isso, o senhor atende um celular com um ringtone bem moderno. Vi que ninguém estava livre do hiper-moderno. O senhor perdeu um pouco da magia e eu parei de observá-lo. Voltei a ouvir música nos meus fones de ouvido. Todo mundo anda se isolando no trem através dos fones. Eu não quero ficar sozinha, também.

O trem pára e entra um outro menino, praticamente, voando, acompanhado da mãe. Atropela todo mundo no vagão. O senhor, então, se levanta oferecendo seu lugar para mãe e filho. O garotinho aceita, feliz, para ficar de pé em cima do banco. E o senhor, de pé no vagão, na minha frente.

Ele mexe nas flores. Eu olho sorrindo. Ele começa a conversar comigo, contando que aquilo é arte inventada para acalmar as crianças, mas que as pessoas não valorizam a arte.
E eu prestei atenção, de verdade. Conversei com o senhor e fui vendo a magia ser recuperada. Ele me contando histórias de sua vida, em pouco tempo, e eu ouvindo, com os fones de ouvido já pendurados no pescoço.

O senhorzinho tinha razão. Falta calma para as crianças. Falta valorização da arte. Falta que a educação que ele tinha fosse dada para aquele menino voador.

Mas a última estação se aproximou, e o trem parou.
Nós descemos. A vida segue.
Eu levando a magia que ele tinha me passado. Ele indo levar mais para os outros.

Ele pode até ter se rendido às tecnologias da telefonia móvel. Mas a essência segue intacta.
E isso, felizmente, não se compra por aí.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Rotinas Agregadas

Uma das maiores reclamações públicas é a rotina. Como a vida se repete, como os dias são iguais e, igualmente, cansativos.
Então, numa tentativa desesperada de mudar tudo, nos jogamos ao acaso para que ele mostre novos caminhos, lugares diferentes. Uma novidade por dia, de preferência.
E essa falta de repetição é, exatamente, uma nova rotina.
A rotina de não fazer nada igual. De ter uma aventura a cada novo dia.

Tudo bem, entedemos isso então e voltamos ao nosso cotidiano comum.
Acordamos já pensando no que temos planejado para as próximas horas. Seja trabalho, estudo, cuidar da casa, cumprir horários, controlar tudo, arrumar a agenda de todo mundo.
E é quando surge algo novo para mexer nas bases.

Então, você conheceu alguém novo. Com o tempo, vai incluindo ele nos seus pensamentos, nas pequenas coisas, nos pequenos acontecimentos. Agrega ele à sua rotina, e agrega à sua rotina uma nova, com coisas que você só começou a fazer a partir daquele encontro.
Troca duas das noites de festa do mês por filme no sofá. Cria frases, tira fotos, faz cartões. Compra roupas novas para aquela nova fase. Ouve músicas que fazem lembrar daqueles momentos, e sorri ao ouvir. Ganha presentes e vive com eles. Descobre-se feliz ao fazer, exatamente, a mesma coisa, várias vezes na semana, várias semanas no mês.
O tempo passa, começa a ficar chato, tudo muda. E o motivo de toda a mudança nos seus dias vai embora.

Aqui estão você e sua velha rotina. Velhos conhecidos, se entendem sem nem conversar.
Mas precisam se livrar desses novos vícios.
Você volta para as noites de festa, e aumenta a freqüência em que elas ocorrem. Mal consegue ficar no sofá vendo filme, sente-se sozinha. Desiste disso. Tenta esquecer as frases, apaga as fotos, guarda os cartões. Mal usa as roupas que te fazem pensar naquilo tudo. Muda de estação quando tocam as músicas. Não usa mais os presentes. Descobre-se perdida ao cair em uma rotina de esquecimento.

Então, você é contratado para um emprego novo. Muda o penteado. Muda a maneira de se vestir e de se portar. Olha diferente para as pessoas.
É feliz em seu novo tempo, mesmo acordando no mesmo lugar, todos os dias, na mesma hora. Mesmo tendo a mesma seqüência de escovar os dentes, depois lavar o rosto, depois ir até a cozinha e tomar café. Mesmo saindo de casa na mesma hora, para pegar o mesmo transporte, entrando pela mesma porta e sentando do mesmo lado.
É feliz mesmo vendo mil pessoas iguais, em seus lugares iguais, com suas maneiras iguais de cumprimentar.
É feliz sabendo que não pode fugir do que a vida traz. E que não adianta desejar não fazer nada mais disso.
Talvez você perca o emprego daqui uns tempos. Vai se ver fazendo tudo de novo. Esquecendo, sofrendo, pensando, reinventando. As respostas podem estar bem mais perto do que se imagina.

Mudar agrega. E agregar virou rotina.
Viver é isso.
Adivinha só quem tem o poder de tornar tudo mais interessante...

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Relativizando as verdades.

"Nem todas as verdades são para todos os ouvidos."
Umberto Eco


Desde que ouvi essa frase, em uma aula de quarta-feira, no meu primeiro semestre de faculdade, ela não me sai da cabeça. Ela desperta em mim muitos significados. Talvez nem todos possam ouvir as verdades. Talvez a verdade não deva ser dita para todos.
Acho que cada um tem suas próprias verdades.
Por isso nem todas são para todos. O que eu acho que é, talvez você não ache.

A verdade da esposa traída é que o marido é fiel. Para ela, não existe uma amante.
A verdade da amante enganada é que o amado é só dela. Para ela, não existe uma esposa.
As verdades são inseridas em contextos diferentes, e só assim podem ser analisadas.

Por isso, não acredito que alguém venha e me diga que acha que vai ser melhor para mim. Eu que sei. Eu que determino isso de acordo com o que aprendi, com o que me fizeram saber na vida. Eu formei o que tenho por verdade.
E não que ela seja absoluta. Pelo contrário, muda sempre que eu noto que estava errada.
Não existe algo certo. Existe o relativo.

Relativizar a verdade é entender que não se pode obrigar alguém a acreditar em tudo o que falamos. Que, às vezes, não adianta querer provar o que achamos certo. Talvez o outro não ache, talvez não seja verdade para ele.
E ela vai ser sempre, até que se prove o contrário.
Aí está a possível solução: misturar as verdades, absorver vários pontos, mudar de idéia, equilibrar.

Até lá, sigo concordando com Eco, interpretando o que ele diz de várias maneiras, e achando que nem todas as verdades são, realmente, verdade. Nem todos os ouvidos são capazes de entender, nem todos devem ouvir.
Algumas verdades são tão individuais que nem devem ser expostas.
Elas, simplesmente, são.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Auto-aconselhamento

Então, você está sentindo vontade de chorar pela perda?
Quer deitar e dormir?Quer se isolar e não atender ninguém?
Quer fingir que o mundo não existe porque acha que a dor não vai passar?

Larga de drama. A vida não é novela. Enquanto você chora na rua, não toca a trilha do seu personagem. Ninguém armou nada contra vocês. Só os caminhos que se descruzaram, e você sabia disso desde o princípio.
Sabia que não era pra durar, achava até que tinha ido longe. Sabia que era tudo um acaso.
Já sei, romantizou o acaso, né?
Péssima mania essa sua! Essa de ficar pensando que quando dobrar a esquina vai começar a cena de sua vida.
Talvez comece, talvez tivesse começado. Talvez não fosse e você pensou errado.

A única maneira de saber era tentando. E isso você fez. E fez bonito.
Fez o que podia, fez de coração. Mas não dá mais, paciência.

Sim, as rádios parecem estar em um complô. Todas elas tocam músicas românticas. A televisão também resolveu passar filmes bonitos.
Mas acorda! O mundo não parou pra ver você sofrer! Não é por sua causa. Você que tem que lavar os olhos para enxergar através das lágrimas que ainda insistem em surgir.

Você tem um belo colchão de molas, e só seu.
Apaixone-se mais por você mesmo!
Vai perceber que finais felizes vêm no fim!

Olhe ao redor, saia com seus amigos, se divirta mais, coisa que há tempos não acontecia por causa da culpa que aparecia.
O tempo não parou, nem vai parar.
Tudo segue.
Todas as outras dores, algumas até maiores que essa, passaram. Essa também não vai tardar.

Talvez tudo mude logo, talvez não. O fato é que muda tudo o tempo todo.
E a culpa não é sua...É a vida que passa e não podemos fazer nada.

Melhor agora?Que bom.
Lavou os olhos e percebeu tudo?Ótimo.
Vai em frente.

Ah!E se uma rádio tocar alguma música triste, troca de estação!

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Tema Livre!!!

Hoje resolvi escrever direto no editor do blog, e não no Word, como antes. Resolvi assumir o risco de preencher uma parte em branco (nossa, que aventureira!), sem corretor automático.
Posso ter tomado uma decisão errada e, ao fim do texto, posso ter errado muito.
Azar.
Decidi que esse blog não vai ter só textos bonitos, limpos, com a tentativa de uma linguagem rebuscada.
Também vou vir aqui pra escrever alguma coisa que tenha me dado vontade de explorar mais.
E hoje é o dia!
(tomei essas decisões todas arrumando a cama, acho que as tarefas diárias acabam mudando a cabeça da gente.)

Há dias pensei em contar, pra quem quiser ler, uma história real. Eu não sou muito boa em escrever romances. Mas a vida é tão romanceada que é só copiar o que acontece no nosso dia.
Existem pessoas que passam pela nossa vida só pra que aconteçam coisas incríveis no nosso caminho.
Foi assim com um casal de amigos meus, que se conheceram só porque minha irmã começou a namorar. O namoro dela acabou, mas o casal segue há tempos. Eu também conheci alguém através deles, alguém que só veio importar muito tempo depois de eu conhecer. Essa pessoa me apresentou outros, e que hoje eu gosto de conversar, considero amigos, perco horas falando sem notar.
Foi assim que eu entrei pra um trabalho voluntário, e fui conhecendo um, depois outro, que conhecia outro, e hoje eu tenho amizades essenciais graças à isso.
Foi assim que eu comecei na faculdade, e conheci um grande professor, que leu meus textos e fez elogios tão grandiosos que me deram mais vontade de escrever.

Eu acredito no acaso. Aliás, acredito na importância do acaso. Ele não vem sem querer, nós que dizemos que é assim.
O que acontece tem que acontecer. Vem pra evolução, vem pra criar novas situações pelas quais temos que passar.
O dia de hoje só é possível graças a tudo de bom, e de ruim, que aconteceu ontem. É ingenuidade nossa achar que temos o controle diário.

Eu não gosto de ver ninguém lendo meus textos, mas faço jornalismo. Parece contraditório, eu sei. Estou tentando melhorar isso. Mas quando fui elogiada pelos textos, que nem foram entregues por mim, eu vi a importância dos fatores externos.
As pessoas que passam por nossa vida tem influência como o sol ou a chuva têm nos dias.
Eles determinam o que poderá acontecer, ou não.

Tem quem entre na nossa vida só para tornar mais possível o encontro com nosso destino.



ps.: eu, provavelmente, me perdi nesse texto. Nem quero ler de novo, vou postar assim mesmo. Hoje eu não quis pensar tanto...

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Inclusão Contraditória

Talvez eu comece agora a escrever sobre um assunto já ultrapassado – como todos os assuntos de hoje, que perdem a importância se não são tratados instantaneamente -, mas ele tem influência na minha vida mesmo que eu tenha demorado em comentá-lo.

Pois bem, eis a minha triste história.
Nasci descendente de alemães, franceses e portugueses. Assim sendo, nasci branca, de olhos verdes. No intuito de que eu tivesse melhores condições de ensino, minha dedicada mãe resolveu matricular-me em uma escola particular da cidade onde morávamos. Nem era a mais cara da cidade, uma mantenedora custeava a maior parte das despesas da instituição, o que barateava a mensalidade. Pois ali estudei do Jardim de Infância ao Ensino Médio. Todos os anos, todos os dias letivos, por doze anos seguidos.

Ao sair do colégio, pensei em prestar vestibular para medicina na UFRGS, idéia que eu mudaria tempos depois, mas que não muda a história. Hoje curso jornalismo, sem ter passado no vestibular da federal. Não sou uma pessoa com capacidade reduzida, talvez tenha me faltado esforço. O fato é que meu nome não estava na lista dos aprovados, e essa realidade não muda.

Agora que eu já lancei os meus dados biográficos, vou entrar no assunto que me trouxe a este texto. Há pouco tempo, foram aprovadas as cotas na UFRGS. E eu não faço parte dos favorecidos.
Essas cotas envolvem pessoas que cursaram o ensino médio em uma rede do ensino público, e negros que passaram por essas instituições, na mesma condição. Dizem que esses estudantes não têm as mesmas condições dos alunos da rede privada. Dizem que eles teriam mais dificuldade para aprovação.

As explicações partem de um passado de preconceitos e explorações contra os negros vindos da África, vendidos como escravos. Certo, concordo, absurdo. No fim dessa história, surgem as leis falhas para a libertação desses escravos. Certo, concordo, absurdo.
Mas, ao invés de melhorarem o ensino público de base, criam-se cotas para colocarem esses estudantes na universidade. Tapam o sol com a peneira, é o que se diz na linguagem popular. E, o que se faz para resolver uma lei falha?Outra lei falha!Lógico!E assim vamos remendando um erro depois de outro. Pobres dos meus netos. Sabe-se lá como vão encontrar esse mundo.

Dizem que as leis são pela inclusão.
Para mim, separar é discriminar. E não me acusem disso, eu nunca separei cotas na minha vida. As pessoas entram por mérito, por esforço, por afinidade. A prova para entrar na minha vida é a mesma para todos. E assim eu via o vestibular. Entram os melhores, os mais preparados, os que se diferem pelo nível de conhecimento, ou sorte, ou os dois, não os que se diferem pela cor da pele, da blusa, do tênis, do lápis.

Cotas são separativas. Logo, cotas são discriminatórias. Se discriminar é preconceito, aí está.

Em nenhum momento quiseram saber do esforço que minha mãe fez para sustentar meus estudos. Não importa se foi fácil, nem se foi difícil. Acontece que eu paguei para estudar. Eis o fato.

Se essas leis são para incluir, quero saber onde eu entro nessa história. Entro como espectadora de mais um populismo?Entro como prejudicada pelo passado?Entro como cobaia de mais uma tentativa de organizar a casa?

Ironia, pode ser, mas fui excluída pela inclusão social mais contraditória que já ouvi falar.

Sobre como se sentir só

Há dias tinha maus pressentimentos. Via que não mais controlava tudo ao redor, via ir embora mais um amor. Mais um. Um entre tantos outros que já teve, e já perdeu. Mais um amor de momento que, por um momento, lhe parecia mais duradouro que os anteriores.

Já não mais acreditava em futuro. Um ceticismo havia lhe tomado depois de uma dessas separações. Hoje, pensava ser mais saudável e prazeroso um relacionamento pensado.

Mas, nessa tentativa de não se envolver, acabou mentindo para si mesmo. E, ao mesmo tempo, privou-se de demonstrações de sentimento, e privou o outro também de saber o que ela sentia. Dizia-se não apaixonada. Jurava que não amava. Julgava-se dona da situação e dos seus sentimentos.

Era feliz, não se pode negar. Mas uma felicidade contida, sem grandes declarações. Tinha medo de se mostrar demais. Temia que a entrega trouxesse danos e a fizesse perder tudo. A fizesse perdê-lo.

Mentia. Diversas vezes, tapeava a verdade e desmentia o que falavam. Talvez não quisesse enxergar o que lhe diziam, ou gostava da realidade que ela havia inventado.

E assim viu sua história escorrendo pelos dedos, indo pelo ralo da pia do banheiro de shopping em que estava.

Banheiros de shopping agora têm poltronas. Sentou-se fingindo esperar alguém. Mas estava sozinha, sozinha como sempre esteve. Sozinha como sempre sentiu estar, no fundo da alma.

Naquele momento, entendeu o que era se sentir só entre tantas pessoas. Ali, sentada nas poltronas acolchoadas, vendo tantas mulheres saindo e entrando naquele banheiro, viu que suas companhias eram ilusórias, e seus sentimentos se confundiram num misto de medo e consolação. Sabia que não tinha mais muita solução, sabia o que tinha de ser feito.

E chorou. Chorou sem lágrimas, em uma espécie de choro interno. Sentiu sua alma, vazia, chorar. Sentiu perder o chão. Ouviu músicas antigas, as que ouvia para pensar nele, tocando no fundo do seu ouvido. Lembrou a risada, o tom da voz, o cheiro. E sentiu-se cada vez mais só, cada vez mais perdida, cada vez apenas mais uma naquele banheiro branco.

Mas já era hora de ir embora. Levantou-se pensando que não era a primeira, nem seria a última vez. Viu que a verdadeira solidão vem de dentro, e não se tem como lutar contra isso.

domingo, 29 de julho de 2007

Quem te acompanha...

Uma boa companhia aparece sem querer, num fim de noite, num banheiro de shopping, num trabalho voluntário.
Aparece sem pedir licença, vai se instalando, abrindo a sua geladeira interna. Lhe transmite coisas boas, vem quando você precisa, lhe ensina novos sentimentos e traz novas sensações.
É alguém com quem temos novas descobertas, novas invenções. Quem faz você voltar à infância e depois crescer sem perceber.

Uma boa companhia estala os seus dedos pra incomodar, depois fica com pena porque doeu.
É divertida em festas, em parques, em casa vendo filme no sofá.

Uma boa companhia faz falta. Dá saudade. Mas, quando compartilhada em exagero, se distancia um pouquinho para voltar mais forte.

Uma boa companhia não avisa quem é. Mesmo assim, depois de cinco minutos de convívio, sabe-se que os próximos cinco minutos não devem ser desperdiçados com bobagem. Sabe-se que cinco minutos ao lado daquela pessoa poderão nos fazer um pouco mais felizes.

Na vida, poucos são assim. Nem sempre quem nos acompanha carrega em si todas essas qualidades.
No entanto, quando achamos uma, sabemos o quanto ela vale e tentamos valorizar isso.

Uma boa companhia tem preço e importância incalculáveis.
Uma boa companhia mostra o medo que se tem em perder alguém.
É aquela com a qual você até sabe viver sem mas, simplesmente, não quer.

Cultive de alguma forma aquela que você achar. Mesmo que ela não entenda todo o seu esforço e o julgue exagerado.
Até no Orkut para se aceitar um amigo, é necessário confirmar duas vezes.
Mas para rejeitá-lo, é uma vez só.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Primeiro de tudo.

"Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, em cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha."
(Mário Quintana)

De certa forma, começos são fins. Parace contraditório, eu sei, mas ninguém começa algo estando puro, limpo de características antigas. Começar algo novo é uma maneira boa de terminar uma fase, de agregar, de seguir em frente.
A primeira vez de tudo é a última do que vinha antes.
O primeiro dia na faculdade é o último da vida de colegial. O primeiro dia de academia é o último da vida de ócio. O primeiro dia de um novo amor é o último da vida de lembranças do antigo.

As novidades não são interessantes só por serem novas, mas porque elas vêm para somar a tudo o que vivemos.
Elas não seriam possíveis se as novidades de ontem já não fossem velhas.
As primeiras vezes não existiriam sem as últimas.
E, assim, de certa forma, começar é terminar.

O fim pode ser um novo começo, me disse alguém uma vez. Naquele tempo, eu não entendia. Achava que fins eram fins, que dali se começava algo completamente diferente, e não se pensava mais no passado.
Ingenuidade e ilusão da minha parte, lógico.
Somos uma mistura de momentos. Nada se perde.
Os ensinamentos daquela briga traumática surgirão quando estivermos para cometer o mesmo erro. E, então, perceberemos que tudo fica escondido na memória, para aparecer de vez em quando.

Esse blog é um novo começo.
Algo que me faça escrever mais, publicar mais.
É o fim da vida de guardar as idéias só para mim, e o começo de mostrar pra todos que tiverem vontade(e paciência) de ler.

Não vai ter temas, nem ordem, nem validade.
É um espaço novo. Uma fase nova. Um momento.

Talvez dê certo, talvez não.
É uma tentativa. Mais uma entre tantas.

Vamos ver, vamos ver.
O importante é não pensar demais.