Sempre tento encontrar, nos meus caminhos de trem, pessoas peculiares. Não digo estranhas. Ninguém precisa ser estranho para ser diferente. Mas elas trazem alguma coisa que chama a atenção, não sei por quê.
Pois esses dias, ao entrar no vagão, achei de cara o meu personagem. Era um senhorzinho que vende essas flores mágicas, feitas de papel colorido e presas em dois palitos de picolé. Quando abertos os palitos, elas começam a tomar forma. A princípio, parece um arco-íris. Depois viram bolinhas, até chegar ao formato de uma cabeça com chapéu.
Muito simples elas são. Um brinquedinho sem grandes atrativos. Certamente, em um ou dois dias a criança cansa dos mesmos formatos que a fita adquire. Não tem muita graça.
Enfim, esse senhorzinho estava sentado ao lado de um menino e mostrava para ele as várias formas para as fitas. Juntava mais de uma. Fazia com três! Criava movimento, situações, até um carrinho ele fez. O menino até estava atento, mas em alguns momentos ele olhava pra mãe como se dissesse: eu não quero isso. Quero meu Playstation 3 novinho, quero jogar no computador também. Isso é muito chato para a minha geração.
Mas o senhor seguia fazendo suas brincadeirinhas. E eu achando muito bonito toda aquela brincadeira manual, que me lembrava alguns dos meus passatempos favoritos da infância. Eu não tinha tudo isso que as crianças têm hoje em dia. Nem os brinquedos tecnológicos, nem a esperteza informatizada, nem os quilos a mais do sedentarismo. Eu corria na rua, pegava aquelas molas coloridas e passava de um lado ao outro. Eu fazia esporte. Eu tinha bonecas, brinquedos que me faziam pensar e que ativavam minha coordenação. E eu era muito feliz, sim.
Enquanto eu pensava isso, o senhor atende um celular com um ringtone bem moderno. Vi que ninguém estava livre do hiper-moderno. O senhor perdeu um pouco da magia e eu parei de observá-lo. Voltei a ouvir música nos meus fones de ouvido. Todo mundo anda se isolando no trem através dos fones. Eu não quero ficar sozinha, também.
O trem pára e entra um outro menino, praticamente, voando, acompanhado da mãe. Atropela todo mundo no vagão. O senhor, então, se levanta oferecendo seu lugar para mãe e filho. O garotinho aceita, feliz, para ficar de pé em cima do banco. E o senhor, de pé no vagão, na minha frente.
Ele mexe nas flores. Eu olho sorrindo. Ele começa a conversar comigo, contando que aquilo é arte inventada para acalmar as crianças, mas que as pessoas não valorizam a arte.
E eu prestei atenção, de verdade. Conversei com o senhor e fui vendo a magia ser recuperada. Ele me contando histórias de sua vida, em pouco tempo, e eu ouvindo, com os fones de ouvido já pendurados no pescoço.
O senhorzinho tinha razão. Falta calma para as crianças. Falta valorização da arte. Falta que a educação que ele tinha fosse dada para aquele menino voador.
Mas a última estação se aproximou, e o trem parou.
Nós descemos. A vida segue.
Eu levando a magia que ele tinha me passado. Ele indo levar mais para os outros.
Ele pode até ter se rendido às tecnologias da telefonia móvel. Mas a essência segue intacta.
E isso, felizmente, não se compra por aí.
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
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3 comentários:
eu não entendo como que tu pode pensar tudo isso...
eu no maximo procuraria uma didatica biologica no meio do brinquedo ou ficaria olhando pelo simples fato de tudo aquilo ser colorido...
hahahahahah
bjo flor
Alohaaaaa
primeiro quero dizer que tu escreves muito bem.
segundo que eu também tenho esses momentos nostálgicos no trem. observo tudo, mas ainda não achei o personagem certo a ser discrito. acharei.
bjussss
entao eh uma escritora
legal, acho q temos muito oq conversar ainda ;)
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