Talvez eu comece agora a escrever sobre um assunto já ultrapassado – como todos os assuntos de hoje, que perdem a importância se não são tratados instantaneamente -, mas ele tem influência na minha vida mesmo que eu tenha demorado em comentá-lo.
Pois bem, eis a minha triste história.
Nasci descendente de alemães, franceses e portugueses. Assim sendo, nasci branca, de olhos verdes. No intuito de que eu tivesse melhores condições de ensino, minha dedicada mãe resolveu matricular-me em uma escola particular da cidade onde morávamos. Nem era a mais cara da cidade, uma mantenedora custeava a maior parte das despesas da instituição, o que barateava a mensalidade. Pois ali estudei do Jardim de Infância ao Ensino Médio. Todos os anos, todos os dias letivos, por doze anos seguidos.
Ao sair do colégio, pensei em prestar vestibular para medicina na UFRGS, idéia que eu mudaria tempos depois, mas que não muda a história. Hoje curso jornalismo, sem ter passado no vestibular da federal. Não sou uma pessoa com capacidade reduzida, talvez tenha me faltado esforço. O fato é que meu nome não estava na lista dos aprovados, e essa realidade não muda.
Agora que eu já lancei os meus dados biográficos, vou entrar no assunto que me trouxe a este texto. Há pouco tempo, foram aprovadas as cotas na UFRGS. E eu não faço parte dos favorecidos.
Essas cotas envolvem pessoas que cursaram o ensino médio em uma rede do ensino público, e negros que passaram por essas instituições, na mesma condição. Dizem que esses estudantes não têm as mesmas condições dos alunos da rede privada. Dizem que eles teriam mais dificuldade para aprovação.
As explicações partem de um passado de preconceitos e explorações contra os negros vindos da África, vendidos como escravos. Certo, concordo, absurdo. No fim dessa história, surgem as leis falhas para a libertação desses escravos. Certo, concordo, absurdo.
Mas, ao invés de melhorarem o ensino público de base, criam-se cotas para colocarem esses estudantes na universidade. Tapam o sol com a peneira, é o que se diz na linguagem popular. E, o que se faz para resolver uma lei falha?Outra lei falha!Lógico!E assim vamos remendando um erro depois de outro. Pobres dos meus netos. Sabe-se lá como vão encontrar esse mundo.
Dizem que as leis são pela inclusão.
Para mim, separar é discriminar. E não me acusem disso, eu nunca separei cotas na minha vida. As pessoas entram por mérito, por esforço, por afinidade. A prova para entrar na minha vida é a mesma para todos. E assim eu via o vestibular. Entram os melhores, os mais preparados, os que se diferem pelo nível de conhecimento, ou sorte, ou os dois, não os que se diferem pela cor da pele, da blusa, do tênis, do lápis.
Cotas são separativas. Logo, cotas são discriminatórias. Se discriminar é preconceito, aí está.
Em nenhum momento quiseram saber do esforço que minha mãe fez para sustentar meus estudos. Não importa se foi fácil, nem se foi difícil. Acontece que eu paguei para estudar. Eis o fato.
Se essas leis são para incluir, quero saber onde eu entro nessa história. Entro como espectadora de mais um populismo?Entro como prejudicada pelo passado?Entro como cobaia de mais uma tentativa de organizar a casa?
Ironia, pode ser, mas fui excluída pela inclusão social mais contraditória que já ouvi falar.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
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Um comentário:
Bah...esse assunto perturbou minha cabeça, rolou o maior "bafafa" no cursinho quando as cotas foram aprovadas, apesar de ter sido a pouco tempo, agora o assunto já não tem sido tão comentado....A minha impressão é que realmente querem tapar o sol com a peneira...remendar tudo e fazer de conta que estão resolvendo nossos problemas.
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