Há dias tinha maus pressentimentos. Via que não mais controlava tudo ao redor, via ir embora mais um amor. Mais um. Um entre tantos outros que já teve, e já perdeu. Mais um amor de momento que, por um momento, lhe parecia mais duradouro que os anteriores.
Já não mais acreditava em futuro. Um ceticismo havia lhe tomado depois de uma dessas separações. Hoje, pensava ser mais saudável e prazeroso um relacionamento pensado.
Mas, nessa tentativa de não se envolver, acabou mentindo para si mesmo. E, ao mesmo tempo, privou-se de demonstrações de sentimento, e privou o outro também de saber o que ela sentia. Dizia-se não apaixonada. Jurava que não amava. Julgava-se dona da situação e dos seus sentimentos.
Era feliz, não se pode negar. Mas uma felicidade contida, sem grandes declarações. Tinha medo de se mostrar demais. Temia que a entrega trouxesse danos e a fizesse perder tudo. A fizesse perdê-lo.
Mentia. Diversas vezes, tapeava a verdade e desmentia o que falavam. Talvez não quisesse enxergar o que lhe diziam, ou gostava da realidade que ela havia inventado.
E assim viu sua história escorrendo pelos dedos, indo pelo ralo da pia do banheiro de shopping em que estava.
Banheiros de shopping agora têm poltronas. Sentou-se fingindo esperar alguém. Mas estava sozinha, sozinha como sempre esteve. Sozinha como sempre sentiu estar, no fundo da alma.
Naquele momento, entendeu o que era se sentir só entre tantas pessoas. Ali, sentada nas poltronas acolchoadas, vendo tantas mulheres saindo e entrando naquele banheiro, viu que suas companhias eram ilusórias, e seus sentimentos se confundiram num misto de medo e consolação. Sabia que não tinha mais muita solução, sabia o que tinha de ser feito.
E chorou. Chorou sem lágrimas, em uma espécie de choro interno. Sentiu sua alma, vazia, chorar. Sentiu perder o chão. Ouviu músicas antigas, as que ouvia para pensar nele, tocando no fundo do seu ouvido. Lembrou a risada, o tom da voz, o cheiro. E sentiu-se cada vez mais só, cada vez mais perdida, cada vez apenas mais uma naquele banheiro branco.
Mas já era hora de ir embora. Levantou-se pensando que não era a primeira, nem seria a última vez. Viu que a verdadeira solidão vem de dentro, e não se tem como lutar contra isso.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Putz...eu adoro isso.....
preciso fazer comentários quando te ver sobre esse texto!!!!
Postar um comentário