sábado, 5 de abril de 2008

Constatação

"Tempo, tempo, mano velho, falta um tanto ainda, eu sei, pra você correr macio..."

Essa frase é parte de uma música do Pato Fu, que eu ouvia há dez anos. Na época, eu achava que entendia. Hoje eu sei que não. Não sei se algum dia vou entender, de verdade, qual a realidade do tempo.

Estou aqui, em uma manhã de sábado, trabalhando. Excepcionalmente, claro. Hoje era meu dia no rodízio de plantões.
Pois bem, a primeira hora passou. A segunda hora também. Mas agora, na terceira, os minutos no relógio digital do canto da tela parecem não passar. Ou eu que estou olhando muitas vezes, em um curto intervalo.
Não sei. Eu nunca vou entender porque o tempo é, assim, tão incontrolável.

É aquela velha história de dez segundos serem muito ou pouco. É pouco, a princípio. Mas segurando um cubo de gelo na mão é uma eternidade.
Tudo depende.

Depende do humor, da ocupação, da pressa.
O tempo é como um apelido que não gostamos. Sempre ao contrário do que queremos. Quando não gostamos de um jeito de nos chamarem, aí sim nos chamam.
Assim é quando estamos com pressa e o tempo corre tanto quanto nossas pernas. E quando queremos ir logo embora, ele parece ter sido esticado como uma corda.

Dizem que se quer que alguma coisa seja feita, dê para alguém que tenha muito o que fazer.
Pode ser. Não tenho conseguido organizar muito bem meus dias, mas corro e faço, em poucos momentos livres, tudo o que vou arranjando durante o dia.

Vi um pessoal do meu antigo colégio e me deu uma certa nostalgia dos tempos de uniforme.
Algo como estudar só pela manhã e ter dois turnos para fazer todo o resto. E o resto não era muito.

Agora, trabalho e estudo. Me sobra pouco tempo para o resto, e o resto que eu pretendia agora cresceu muito. As relações são de proporcionalidade inversa.
Irritante e ao mesmo tempo gratificante.

Passaram dez anos desde que eu ouvia aquela música.
Hoje já vou entendendo mais quando ela diz que falta um tanto para ele correr macio.
Sabe-se lá quando alcançaremos essa façanha de ver o tempo passar com calma. Sem preocupações. Vê-lo correndo macio como criança no gramado. Aquela que não tem que correr para grandes compromissos.

Falta tempo para o tempo.
Porque cada um passa de um jeito.
Cada pessoa tem o seu.

Só sei que aqui os minutos vão passando. Aos poucos, mas vão.
Pelo menos eu estou vendo como passa, melhor do que perdê-lo de vista.

No fim daquela música ela diz "tempo amigo, seja legal. Conto contigo pela madrugada. Só me derrube no final".

Antes que o tempo resolva acabar, melhor parar de reclamar dele.

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