Eu nasci na época errada.
Fato. Fato quase comprovado cientificamente.
Eu não acredito que me atrasei para chegar.
Olho em volta e vejo o mundo em que me encontro. Vejo a vida que levo e para onde tudo o que eu faço está me encaminhando. Vejo as horas passarem, não comigo e sim por mim. Assim, me passam na frente, me escapam entre os dedos como a água fria da torneira.
Vejo as estações do ano se confundindo sem saber se devem ser quentes ou frias.
E as pessoas igualmente confusas sem saber se devem ser quentes ou frias. Boas ou más. Santas ou pecadoras.
Por mim, passam as novidades que já ultrapassam todas as recém lançadas.
E as notícias que repercutem não têm quase relevância, enquanto que os assuntos que dominam as minhas rodas são os mais inúteis.
Sinto saudade do que eu não vivi.
Invejo tudo o que me contam sobre um tempo que não é meu, e que nunca poderá ser.
Houve um período de menos conformismo, de medos mais consistentes, de lutas mais dignas.
Aliás, um período de dignidade.
Um lugar onde se comprava com menos dinheiro, onde se esquentava com menos roupa, onde as compras duravam e não precisavam ser postas fora.
Onde nem tudo era esteriotipado. A mistura é que dava o tom.
Os grupos se formavam naturalmente e não por necessidade de pertencimento. E mais! Quem fazia parte não precisava ter pensamento, roupa e fala igual. Havia mais elasticidade na aceitação.
E a ironia era pensada não como máscara para insegurança. Não era usada pelos maus, ou para fazer mal. Era uma prova de inteligência entender uma ironia. Era para ultrapassar barreiras. Era para sobreviver.
Podia-se chamar algo de questão ética. Havia ética!
Hoje uma palavra perdida em algumas cabeças confusas.
Será que tenho?Será que devo ter?
Eu queria poder sair na rua sem pensar que algo ruim vai acontecer. Eu queria poder entrar numa estrada e pensar que ela vai ter um trânsito fluente de carros. Queria chegar na minha casa de praia e ver o velho muro pequeno, com um portão fácil de abrir, sem alarme.
Me aprisionaram em uma época que não me pertence.
Não entendo porque a mentalidade humana regrediu. Vejo uma geração sem motivos para estar cansada. Ninguém nos repreende de verdade. Podemos falar mais, escrever mais, saber mais. Ainda assim, o que se vê, lê e ouve hoje é a prova da fadiga mental.
Paramos no tempo ao achar que éramos espertos demais e estávamos evoluindo.
Agora ninguém sabe o que é, o que quer, aonde vai. Só se vê o tempo passando, de longe da janela para não correr perigo. Perigo de doença, de morte, de vida, de frio.
Tudo se perdeu.
E eu, logo eu, que era tão certa nos horários, me descubro atrasada para os compromissos, atrasada nas idéias, atrasada nas visitas.
Descubro, então, que o motivo é lógico.
Atrasei na hora de nascer.
Vivo correndo atrás do prejuízo.
segunda-feira, 14 de abril de 2008
sábado, 5 de abril de 2008
Constatação
"Tempo, tempo, mano velho, falta um tanto ainda, eu sei, pra você correr macio..."
Essa frase é parte de uma música do Pato Fu, que eu ouvia há dez anos. Na época, eu achava que entendia. Hoje eu sei que não. Não sei se algum dia vou entender, de verdade, qual a realidade do tempo.
Estou aqui, em uma manhã de sábado, trabalhando. Excepcionalmente, claro. Hoje era meu dia no rodízio de plantões.
Pois bem, a primeira hora passou. A segunda hora também. Mas agora, na terceira, os minutos no relógio digital do canto da tela parecem não passar. Ou eu que estou olhando muitas vezes, em um curto intervalo.
Não sei. Eu nunca vou entender porque o tempo é, assim, tão incontrolável.
É aquela velha história de dez segundos serem muito ou pouco. É pouco, a princípio. Mas segurando um cubo de gelo na mão é uma eternidade.
Tudo depende.
Depende do humor, da ocupação, da pressa.
O tempo é como um apelido que não gostamos. Sempre ao contrário do que queremos. Quando não gostamos de um jeito de nos chamarem, aí sim nos chamam.
Assim é quando estamos com pressa e o tempo corre tanto quanto nossas pernas. E quando queremos ir logo embora, ele parece ter sido esticado como uma corda.
Dizem que se quer que alguma coisa seja feita, dê para alguém que tenha muito o que fazer.
Pode ser. Não tenho conseguido organizar muito bem meus dias, mas corro e faço, em poucos momentos livres, tudo o que vou arranjando durante o dia.
Vi um pessoal do meu antigo colégio e me deu uma certa nostalgia dos tempos de uniforme.
Algo como estudar só pela manhã e ter dois turnos para fazer todo o resto. E o resto não era muito.
Agora, trabalho e estudo. Me sobra pouco tempo para o resto, e o resto que eu pretendia agora cresceu muito. As relações são de proporcionalidade inversa.
Irritante e ao mesmo tempo gratificante.
Passaram dez anos desde que eu ouvia aquela música.
Hoje já vou entendendo mais quando ela diz que falta um tanto para ele correr macio.
Sabe-se lá quando alcançaremos essa façanha de ver o tempo passar com calma. Sem preocupações. Vê-lo correndo macio como criança no gramado. Aquela que não tem que correr para grandes compromissos.
Falta tempo para o tempo.
Porque cada um passa de um jeito.
Cada pessoa tem o seu.
Só sei que aqui os minutos vão passando. Aos poucos, mas vão.
Pelo menos eu estou vendo como passa, melhor do que perdê-lo de vista.
No fim daquela música ela diz "tempo amigo, seja legal. Conto contigo pela madrugada. Só me derrube no final".
Antes que o tempo resolva acabar, melhor parar de reclamar dele.
Essa frase é parte de uma música do Pato Fu, que eu ouvia há dez anos. Na época, eu achava que entendia. Hoje eu sei que não. Não sei se algum dia vou entender, de verdade, qual a realidade do tempo.
Estou aqui, em uma manhã de sábado, trabalhando. Excepcionalmente, claro. Hoje era meu dia no rodízio de plantões.
Pois bem, a primeira hora passou. A segunda hora também. Mas agora, na terceira, os minutos no relógio digital do canto da tela parecem não passar. Ou eu que estou olhando muitas vezes, em um curto intervalo.
Não sei. Eu nunca vou entender porque o tempo é, assim, tão incontrolável.
É aquela velha história de dez segundos serem muito ou pouco. É pouco, a princípio. Mas segurando um cubo de gelo na mão é uma eternidade.
Tudo depende.
Depende do humor, da ocupação, da pressa.
O tempo é como um apelido que não gostamos. Sempre ao contrário do que queremos. Quando não gostamos de um jeito de nos chamarem, aí sim nos chamam.
Assim é quando estamos com pressa e o tempo corre tanto quanto nossas pernas. E quando queremos ir logo embora, ele parece ter sido esticado como uma corda.
Dizem que se quer que alguma coisa seja feita, dê para alguém que tenha muito o que fazer.
Pode ser. Não tenho conseguido organizar muito bem meus dias, mas corro e faço, em poucos momentos livres, tudo o que vou arranjando durante o dia.
Vi um pessoal do meu antigo colégio e me deu uma certa nostalgia dos tempos de uniforme.
Algo como estudar só pela manhã e ter dois turnos para fazer todo o resto. E o resto não era muito.
Agora, trabalho e estudo. Me sobra pouco tempo para o resto, e o resto que eu pretendia agora cresceu muito. As relações são de proporcionalidade inversa.
Irritante e ao mesmo tempo gratificante.
Passaram dez anos desde que eu ouvia aquela música.
Hoje já vou entendendo mais quando ela diz que falta um tanto para ele correr macio.
Sabe-se lá quando alcançaremos essa façanha de ver o tempo passar com calma. Sem preocupações. Vê-lo correndo macio como criança no gramado. Aquela que não tem que correr para grandes compromissos.
Falta tempo para o tempo.
Porque cada um passa de um jeito.
Cada pessoa tem o seu.
Só sei que aqui os minutos vão passando. Aos poucos, mas vão.
Pelo menos eu estou vendo como passa, melhor do que perdê-lo de vista.
No fim daquela música ela diz "tempo amigo, seja legal. Conto contigo pela madrugada. Só me derrube no final".
Antes que o tempo resolva acabar, melhor parar de reclamar dele.
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